![]() |
Polo gesseiro de Araripina enfrenta problemas com transporte; ferrovia Transnordestina poderia auxiliar escoar a produção (Foto: Wagner Sarmento/TV Globo) |
(O G1 publica uma série de cinco reportagens sobre as obras de ferrovia Transnordestina, que corta os estados de Pernambuco, Ceará e Piauí. A primeira mostra que, inciadas em 2006, obras ainda não foram concluídas e seguem sem prazo. A segunda, traz o retrato das famílias desapropriadas.)
A redução no frete, que hoje custa de duas a quatro vezes mais do que a matéria-prima, ampliaria a competitividade das empresas pernambucanas no mercado brasileiro e internacional. No pico da obra, em 2010, dezenas de novas empresas foram criadas. Muitas fecharam.
A região tem 39 minas de gipsita, minério do qual é feito o gesso. Em apenas uma dessas minas, há gipsita suficiente para pelo menos 200 anos de exploração. São mais de 700 indústrias de pré-moldados e 140 calcinadoras, fábricas que transformam a pedra em pó.
Mais de 13 mil pessoas vivem diretamente do gesso. Mas nem toda matemática favorece o polo gesseiro. Uma tonelada de gipsita custa em média R$ 22. A mesma medida do gesso em pó vale R$ 150. “O frete rodoviário chega a custar R$ 200 por tonelada”, salienta o empresário Josias Inojosa Filho, ex-presidente do Sindicato da Indústria do Gesso (Sindusgesso).
![]() |
Polo gesseiro de Araripina emprega cerca de 13 mil pessoas (Foto: Wagner Sarmento/TV Globo) |
“O frete é um fator limitante, sobretudo quando se fala em mercado internacional e competitividade. As grandes empresas do Sudeste e Centro-oeste do Brasil preferem importar a gipsita da Espanha do que comprar da gente. Ou seja, um produto que vem de navio do outro lado do mundo sai mais barato que o vendido aqui. A Transnordestina ajudaria a mudar esse cenário”, avalia Inojosa.
O caminhoneiro Luciano Jesus da Silva é exemplo do quanto o frete rodoviário dificulta a economia. A bordo de um caminhão de 52 toneladas, esperava o veículo ser carregado com gesso para levar o produto até Canoas, no Rio Grande do Sul, uma viagem de mais de 3,5 mil quilômetros, que duraria cerca de uma semana.
“A viagem é longa e cansativa, as estradas são ruins e, se um pneu fura, complica tudo. A gente trabalha com uma margem mínima de lucro”, pondera.
![]() |
Expectativa dos empresários do polo gesseiro é de que ferrovia pudesse diminuir custo do transporte (Foto: Wagner Sarmento/TV Globo) |
Quem não consegue aumentar o valor agregado para competir sofre
consequências ainda mais dramáticas. Fábricas fechadas e abandonadas são
um cenário comum em Araripina. Gente que sempre viveu do gesso perdeu o
emprego e buscou alternativas de sobrevivência. Demitido de uma
indústria há quatro meses, Genilson Abreu fez de seu casebre uma pequena
fábrica. Trabalha sozinho no local e produz, por dia, 200 placas de
gesso. Comercializa cada uma por R$ 1,20, preço mais em conta que o
oferecido por empresas maiores.
“Carteira assinada é sempre melhor porque é garantido, mas hoje em dia
está feio. Como eu sabia fazer, vou fazendo devagarzinho por aqui”,
comenta ele, que consegue tirar em torno de R$ 1,8 mil mensalmente.
A presidente do Sindusgesso, Maria Ceissa Costa, critica a informalidade, vista como outro fator que prejudica a competitividade. “São muitas as empresas que atuam de maneira ilegal. A gente vem batendo nisso, pedindo ao governo estadual para que haja um controle maior, mas eles dizem que é difícil”, diz.
A presidente do Sindusgesso, Maria Ceissa Costa, critica a informalidade, vista como outro fator que prejudica a competitividade. “São muitas as empresas que atuam de maneira ilegal. A gente vem batendo nisso, pedindo ao governo estadual para que haja um controle maior, mas eles dizem que é difícil”, diz.
![]() |
Produção agrícola poderia dobrar com o transporte via ferrovia, segundo produtores no Piauí (Foto: Wagner Sarmento/TV Globo) |
Um dos principais benefícios prometidos pela Transnordestina seria facilitar o escoamento de grãos da região conhecida como Matopiba, que é reputada como a nova fronteira agrícola do país e inclui os estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Hoje, a produção esbarra no alto custo do transporte rodoviário, três vezes mais caro que o ferroviário, e no desperdício médio de 2% da carga a cada viagem de caminhão. Produtores do Piauí são categóricos: com a Transnordestina em operação, é possível dobrar a produção de soja e milho na região
O Matopiba já é responsável por quase 10% da produção nacional de grãos
e cresce a uma média de 20% por ano, embora o último ano tenha sido de
queda por causa da falta de chuva. Na safra passada, o Matopiba produziu
mais de 12 milhões de toneladas de grãos. Para a safra deste ano, a
expectativa é atingir a cifra recorde de 19 milhões de toneladas. Hoje,
são 73 milhões de hectares de área plantada. Segundo a Companhia
Nacional de Abastecimento (Conab), essa área pode ser aumentada em até
um terço.
O crescimento do setor, porém, fica limitado pela dificuldade no
escoamento. Um exemplo clássico dessa realidade é a região produtora do
cerrado piauiense, composta por 12 municípios. A soja produzida lá
precisa enfrentar mais de mil quilômetros de estradas, algumas
esburacadas, outras sem asfalto, para chegar ao porto de Itaqui, o
terminal de grãos do Maranhão, e de lá ser distribuída país afora.
![]() |
Invés de enfrentar estradas esburacadas, carga de grãos poderia ser escoada pela ferrovia Transnordestina (Foto: Wagner Sarmento/TV Globo) |
A Transnordestina nasceria para desatar esse nó e desenvolver a região.
Bom Jesus fica a 200 quilômetros do porto seco de Eliseu Martins (PI)
e, de lá, a soja, o milho e o algodão seguiriam pelos trilhos até os
portos de Pecém (CE) e Suape (PE), para serem distribuídos de navio para
o restante do Brasil.
“Toda a cadeia produtiva depende de uma logística eficiente. O reflexo
no escoamento seria gigante para nós. A gente traria insumo mais barato,
produziria mais e aumentaria nossa competitividade. Nossa região tem
todo um potencial a ser explorado, mas o governo não melhora a
infraestrutura e nos impede de crescer. Estamos rezando para a ferrovia
sair do papel”, pondera o engenheiro agrônomo Rafael Maschio, diretor
executivo da Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja) em Bom Jesus e
região.
Por Wagner Sarmento, TV Globo
![]() |
Mapa mostra o que já foi executado da Transnordestina (Foto: Arte/G1) |
Por Wagner Sarmento, TV Globo
Postar um comentário